Ainda se lembram do primeiro video que fiz para promover A Vertigem de Zenão? Tão simples, tão ingénuo, uma experiência táctil e autodidacta no Windows Moviemaker, que se foi tornando mais intuitiva conforme os vídeos foram progredindo. Mas eram mais um sintoma de que estava a distrair-me do principal, que era escrever o próprio livro que pré-promovia. Até teve direito a duas versões sonoras, enquanto não me decidia entre a intensidade da acção e a antecipação pelo suspense.
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Tenho um livro incompleto que deixei escorregar para a gaveta por falta de inspiração e coragem, a questionar-me se valia a pena dedicar-me de corpo e alma a algo que receava ser menos do que uma obra-prima, com uma história esboçada muitos anos antes e que, entretanto, dezenas de séries de televisão policiais pisaram na ânsia de não deixar argumentos por explorar, despindo de originalidade o que empolgava a minha ingenuidade de jovem autor.
Mas decidi pegar novamente no manuscrito e, de espada em punho e pena na orelha como lápis de merceeiro, avançar capítulo a capítulo, maravilhando-vos novamente com esta prosa que na adolescência era lida apenas por mim e pelo meu público progenitor, expectante à reacção à minha dactilografia batida no quarto às escuras descontando o candeeiro de mesa, que histórias negras não se escrevem às claras, atento à sua desconfiança inicial, desaprovação pelo recurso à violência dos heróis e grato pela surpresa aos finais de pirueta e a admiração pelo todo. Ajudem-me a garantir que este novo alento não esmorece, que da minha parte prometo mais e melhor, tanto em trama como em estilo, que as ideias que fluem apenas precisam de olhos que as vejam e dedos que as trabalhem. Uma vez mais, é graças ao milagre do suor na testa que finalizo e publico mais um clip no youtube a promover o livro. Este clip começou a ser construído antes do Natal e só hoje, praticamente dois meses mais tarde, está pronto para visualização. O primeiro passo foi a colocação de centenas de gifs numa pasta específica, tendo em atenção o temperamento desejado para o vídeo. O segundo foi a selecção da faixa sonora que acompanha a acção, que eu queria que tivesse a ver com tango, para colocar alguns gifs de dança, só porque sim, que é das razões com mais força que há. Depois chegou o trabalho do corta e cola, acelera e atrasa, de maneira a que os gifs batessem certo com as nuances da música. Tarefa desgastante de montagem e sincronização, que só pode ser feita quando se está inspirado e que quebra o espírito ao fim de algum tempo, porque a realidade só com muito esforço se dobra à imaginação, quando os meios não ajudam. De assinalar que o cluster com a parede de tijolo e as indicações do autor e do título é um vídeo feito em separado, previamente, para que pudesse ter um efeito uniforme de afastamento da imagem, apesar de ser constituído por diversas fotos paradas, inclusivamente com dois fundos diferentes, para que o efeito de afastamento fosse mais acentuado. E assim deixo à vossa apreciação a minha mais recente obra mais ou menos prima dos meandros da multimédia, esperando pelo vosso reconhecimento e opiniões. Olá, leitores.
Para quem já leu o 11º Capítulo e pergunta quando há mais, saiba que o 12º está em franca evolução, promete lágrimas a muitas Madalenas e é bom que cumpra, porque para isso trabalho e a Kleenex patrocina, ou devia. Aviso já que só aceitarei reclamações de Madalenas de primeiro nome. Escrever não é fácil quando o perfeccionismo prega rasteiras e atrasos e mal avisado insisto em juntar factos dos mais dolorosos da minha vida verdadeira, que já dizia o Hemmingway que só se deve escrever sobre aquilo que se conhece e eu nunca disparei um tiro e cadáveres só vi em velórios. Entretanto, fiz mais dois pequenos vídeos de chamariz para o livro, um deles já no início do mês, mas sobre o qual aqui nada disse, que é minha prorrogativa só escrever sobre e quando me apetece, e outro a que me dediquei esta manhã. Começando pelo primeiro (podem vê-los na página de rosto do site), intitulado Do You Remember, é um bocado pesado e sanguinolento, mas em termos plásticos ficou muito bem conseguido. Sim, sou eu que o digo. Tenho centenas de pequenos gifs à espera dos seus três segundos de fama e lá os lanço a conta-gotas para o destino cruel de ninguém lhes ligar nenhuma. A inspiração para Do You Remember surgiu na forma de uma música. Estava a ouvir o álbum Interlude, da violinista e actriz Lucia Micarelli, quando uma das faixas me eriçou os cabelos da nuca, que os outros são demasiado compridos. Julguei que fosse Béla Bartok às voltas com o seu Príncipe de Pau, mas era o Quarteto para Cordas nº7 de Shostakovich, o que, para o efeito, veio a dar no mesmo, isto é, à inspiração. Comecei a ordenar a minha galeria de imagens em movimento como um jogo de scrabble à moda do xadrez e concluí, destroçado, que não havia a menor hipótese de harmonizar as imagens que tinha à música que queria. Tive de fazer o inverso, o que é sempre extremamente moroso, mas lá consegui o som perfeito, através do lento método Tentativa & Erro. O vídeo que fiz hoje foi apenas uma brincadeira, mas acabou muito melhor do que o previsto. Assim como o Do You Remember surgiu de inspiração musical, este foi provocado pelo gif do Benedict Cumberbatch envolto em cogitações, daí o título Sherlock Mystery Fun. Repetir a imagem durante meio minuto pareceu-me doloroso ao público, pelo que lhe apliquei alguns efeitos de distorção básicos e uma música que, estranhamente, não teve a mesma difusão ou aproveitamento em remixes como o Halloween do Carpenter ou o Friday 13th do Manfredini. Quem gostar, saiba que o Charles Bernstein não só compôs também a banda sonora de outro filme de Wes Craven (Deadly Friend) como a adaptação de Cujo, de Stephen King, com resultados satisfatórios. Conforme hábito, o final do vídeo é cartoonesco, cortando com a seriedade que o antecede. A ideia inicial era fazer explodir a cabeça do actor pensativo e já tinha escolhido um gif do filme Scanners, de Cronenberg, para o efeito, mas a descoberta do gif do Sherlock pseudo-suicida-voador é de tal modo impagável (ninguém venha cobrar-me pela utilização) que triunfou. Decidi alterar a parte de promoção directa, que até aqui era um composto fixo que começava com um jornal e terminava com um morto, e julgo estar irrepreensível. O meu nome no início parece um elaborado efeito de vídeo, mas são duas imagens fixas com sobreposição lenta. Isto aqui é tudo orgulhosamente artesanal. Fico à espera das vossas opiniões, pelo que vou sentar-me. Um abraço. É verdade que esta publicação esteve alguns meses empenada, durante os quais me questionei sobre o avanço da narrativa e enfrentei um bloqueio de escritor com a miopia de quem não sabe, sequer, o que tem pela frente.
Penso já aqui ter dito que, na génese deste livro, se encontra um romance escrito mas não publicado com muitos anos de passado, finalmente desempoeirado naquilo que julgava ser uma rápida operação de manicura mas, unhacas do demónio, se tornou bem mais espinhosa do que o previsto, pois o original estava tão mal escrito e estruturado que o meu eu actual tem dó daquele que achava que tinha na prosa a sua mais inspirada vocação. Uma vez mais, meto mãos à obra, e prego a fundo antes que o escape entupa novamente. Espero que gostem. Acho que ficou perfeito, ainda que ao longo da manhã de hoje o tenha relido diversas vezes e alterado uma palavra ou outra, a cada leitura, a corrigir pequenas imperfeições, repetições ou apêndices desnecessários.
Foi um texto que passou, literalmente, por duas namoradas, e que era suposto conter avaliações autobiográficas sobre o amor. Claro que podia ter-me limitado a criar um personagem e a encolher os ombros à ligação entre mim e ele, mas algo me impelia a revelá-lo como pessoa, já que Ismael ainda não tinha tido grandes oportunidades de dar-se a conhecer, sempre a correr e a deduzir de um lado par o outro. Foi, por essa razão, um capítulo que exigiu muito de mim. O que dizer é, por vezes, tão importante quanto o que fica de fora, e diálogos inteiros foram construídos e apagados até ao resultado final, assim como as máximas expressas durante a preparação do café de máquina. O ponto final era para ter ocupado apenas um parágrafo e demorou mais de uma semana a ser escrito, o tiro no sapato a ziguezaguear como uma bola no meu cérebro de pinball. Quando, finalmente, disse "Não passa de hoje" e me sentei ao computador, foram horas de trabalho até que quatro parágrafos chegassem onde queria. A ouvir a banda sonora do jogo de consola Assassin's Creed III, de Lorne Balfe, em looping. Finalmente terminado e publicado! I kid you not, o décimo capítulo deste livro levou meses a ser concluído. Meses de preparação, de confecção, de controlo de qualidade, de receio em tocar e estragar, de falar ou reter demais, de ser autobiográfico em excesso ou defeito. Apaguei diálogos inteiros, deformei outros, transformei os que restavam, trabalhei cada gesto, cada olhar, cada respiração do leitor, tive inclusivamente de descobrir como funciona e se chamam as peças de uma máquina de café expresso, quando nunca operei uma.
Peço-vos que leiam, que opinem, que critiquem, que se deixem fascinar pelo que começou por ser uma folha em branco e levou com sentimentos em cima, que tiveram de ser amassados e massacrados para servirem os personagens. O texto final ficou bem mais leve do que inicialmente previsto, mas melhor, por isso mesmo. Tem sentido de amor, humor e um final inesperado. Não vos maço mais, podem ir ler. Não é necessário conhecerem os capítulos anteriores, este aguenta-se por si, diferente dos demais, pode até servir de ponto de partida, espreitem o que ficou para trás, se gostarem, façam apostas quanto ao que vem adiante, que nem eu sei, concretamente, o que vai ser. Foi, até ao presente, o capítulo de mais complicada produção.
Primeiro, porque foi o primeiro escrito sem rede, tendo os anteriores sido adaptados, ou aprimorados, do esboço original, a cujas raízes já aludi em posts anteriores. Depois, e esta é a justificação que pesa, porque Ismael teria de abrir os cordões aos sentimentos e os do autor não andavam muito seguros de si. As reticências do autor transmitiam-se ao protagonista e ambos arrastavam o passo, protelando o inevitável, esgrimindo possíveis diálogos mentais e abordagens que lhes permitissem protegerem o coração ao mesmo tempo que o abriam, e para esta nobre arte não existe ainda comando à distância, ficando-se à mercê de uma inspiração que pode tardar em surgir. As sementes foram, eventualmente, lançada à terra, e dos elementos externos ficou dependente. Enfim, parágrafos individuais houve que foram tudo o que um dia inteiro de dedicação produziu, como jogadores de futebol que vão passando a bola entre si ou para o guarda-redes, receosos de dar um passo em território desconhecido, mas tudo o que se começa tem de concluir-se e um Ismael desgrenhado e balbuciante lá cumpriu o seu destino e a humildade compensou. Ainda tive algumas dúvidas relacionadas com o diálogo da parte final, mas a nota do público mais íntimo a quem pedi opinião foi favorável, como espero que seja a da generalidade dos leitores. De "bonito e inteligente", a séria e abnegada substantivação do autor passou para "carismático e eloquente". Aparentemente, havia quem não fosse capaz de ultrapassar a primeira formulação.
O meu detective precisa de uma arma. Como o inspector Ismael não usa genéricos e a minha escrita é cinematográfica, os olhos do leitor têm se ser tão alimentados quanto a sua imaginação. Daí que a escolha de uma arma para um homem da lei não seja de somenos importância.
Ora bem, investigador meu também não compra no supermercado. De fora ficam, por isso, Colts 1911 e Berettas 92FS, assim como coisas irrealistas como Desert Eagles, .44 Magnums e canhões tipo o revólver 454 Casull, que é tão potente que é um six shooter cujo tambor só aguenta cinco balas, tal é o tamanho de cada uma. A Walther P99 é das coisas mais bonitas com que James Bond já fez pose, por isso está também de fora. Ismael não usa refugo de agente secreto. Assim, tentei instruir-me no que aí anda de bom e recente e fiquei com duas opções ex aequo. São ambas novidades de 2012, quentes da fábrica, com a diferença de tratar-se de uma pistola e de um revólver, e de estarem separadas por um Continente. Quer dizer, mais ou menos. Primeiro, a XD-S, pistola compacta da Springfield Armory norte-americana, mas made inCroácia. Calibre .45 ACP, design agressivo, um cabo tão curto que o carregador só leva 5 balas (mais uma na câmara). De pequenas dimensões e leve, tem uma mira a três pontos com fibra óptica à frente bastante confiável e um coice relativamente suave para o grosso calibre (.45ACP é mais do que 9mm). O cano tem 8,3 centímetros de comprimento. Quando disse ex aequo, queria dizer quase. É que um polícia português não se pode pôr a gastar as economias em brinquedos e Ismael preferiu o revólver Chiappa Rhino 200DS. É o segundo revólver de sempre com alinhamento invertido do cano face ao tambor, o que diminui consideravelmente o coice da arma, já que aproxima a linha do antebraço da do cano da arma. Para além disso, o coice é para trás e não em arco, o que facilita a pontaria num segundo tiro. Esta inovação é obra de Emilio Ghisoni, que em 1997 a introduziu na Mateba Model 6 Unica e agora a desenvolveu para a marca Chiappa. O Rhino aceita seis balas de calibre .357 Magnum, que é mais potente do que .45ACP, o cano tem 5.9 centímetros, o tambor é hexagonal, em vez de redondo, para ficar mais estreito. Mais do que isto, só com um especialista. |
Ricardo Lopes MouraCarismático e eloquente, Ricardo Lopes Moura é autor das obras Phenomenae e Tal Pai..., publicadas no tradicional formato livresco. Actualmente, disponibiliza online o seu último romance, A Vertigem de Zenão, editado no método folhetinesco, i.é, facultando ao leitor cada capítulo conforme o mesmo é concluído. A trama permanece um relativo mistério para ambos, porque a ficção tem mente própria. Archives
January 2018
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